sábado, janeiro 27, 2007

A Língua Portuguesa...

... é muito traiçoeira, já dizia o outro.

Bem, meus caros atrofiados: como isto aqui tem andado bastante morto, aqui vai um post que é um verdadeiro atrofio (digno do caderno original)
Acordei noutro dia com uma questão pertinentíssima na cabeça, daquelas que acho que só ocorrem a quem leva uma vida com bastantes momentos de ócio e divagações artísticas e alucinações afins (enfim, podia acontecer a qualquer um de nós, mas desta vez tocou-me a mim).

Quem é que me consegue explicar - mas convincentemente, porque "é assim" não vale - a seguinte questão filosófico-linguística?

Porque é que na nossa língua de Camões é:
  • A(c)to
  • Ca(c)to
  • Ja(c)to
  • Olfa(c)to
  • Ta(c)to
  • Corre(c)to
  • Afe(c)to
  • Infe(c)to
  • Abstra(c)to
  • Arquite(c)to
  • Inspe(c)tor
  • Subje(c)tivo
  • Diale(c)to
  • Obje(c)to
  • Abje(c)to
  • Te(c)to
  • Re(c)to
  • Proje(c)to (embora também se diga por aí: "porje(c)to")
  • Predile(c)to
  • Inse(c)to
  • Aspe(c)to
e é:

  • CircunspeCto
  • ArtefaCto
  • PaCto
  • CompaCto
  • IntaCto
  • Cteo
*Obviamente o (c) não se pronuncia, e o C sim...

E já agora duas questõezinhas mais:
  • Ere(c)to ou EreCto?
  • Fa(c)to ou FaCto?
E só pra chatear um bocadinho mais... porque raio:
  • Concreto
  • Discreto
  • Beto (droff e os outros)
  • Veto
  • Mato
  • Pato (não o de Varsóvia... o "à Pequim")
  • Rato
  • Fato
  • Bato (e porque não Ba(c)to???)
  • Gato
  • Dato
  • Hiato
  • Boato
  • Diletante
  • Completo
  • Dialético
  • Atlético
  • Chato (acho que a A é positivamente Cha(c)ta!)
  • Prato
  • Grato
  • Sapato
  • Barato
  • Nato (as in N.orth A.tlantic (C).ocksuckin' T.reatise O.rganisation)

Pronto, aguardo a vossa sapiência e esclarecimentos
Ah, se se lembrarem de mais, por favor publiquem (se forem participantes no blog simplesmente editem o post, se não deixem um comentário que a gente (ou nós) acrescenta)
Tijay
Z

quinta-feira, janeiro 11, 2007

VIDA, VIDA

Não acredito em pressentimentos, nem agoiros
Me assustam. Não evito a calúnia
Ou o veneno. Não há morte sobre a terra.
Todos são imortais. Tudo é imortal. Não há
Que ter medo da morte aos sete
Nem aos setenta. O real e a luz
Existem, mas não a morte ou a treva.
Viemos hoje à enseada,
E o cardume da imortalidade veio
Quando eu puxava as redes.

Vivei na casa _ e a casa viverá.
Invocarei qualquer dos séculos
Para lá construir a minha casa.
Por isso tenho vossos filhos a meu lado
E também vossas mulheres, sentados à mesa,
Mesa para o magnífico avô e para o neto.
Cumpre-se aqui e agora o futuro,
E se eu ao de leve vos dou a minha benção
É porque só restam esses cinco raios de luz.
Omoplatas minhas como vigas mestras
Sustentam cada dia que engendra o passado,
Com a vara de agrimensura meço o tempo
E tanto atravesso como sobrevoo os montes Urais.

Escolho uma idade à minha medida.
Guia-nos o sul, com remoinhos de pó sobre a estepe;
Renques daninhos, pragas de gafanhotos,
As cintilações faiscantes das ferraduras polidas,
Tudo profetizava _ visões
De monge _ que eu iria perecer.
Peguei no destino, atei-o à sela;
E agora que estou no futuro, permaneço
Hirto nos estribos como uma criança.

Só quero a imortalidade
Para que o sangue flua pelas eras.

De boa vontade daria a vida
Por um lugar seguro e quente,
Não me guiasse a agulha aérea viva
Pelo mundo como a uma linha.

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Arsenii Tarkovskii